quarta-feira, 15 de abril de 2009

PENSE MUITO ANTES DE AGIR


O LEITOR


São 23.49h do dia 13 de abril de 2009 e eu acabei de ver um filme, o Leitor. Fiquei pensando qual a real justiça que existe na nossa cabeça, no nosso sistema legal e nas nossas vidas.
O filme conta a estória de uma das carcereiras dos campos de concentração nazista, um pouco da sua estória pessoal, o julgamento do seu envolvimento nos casos nazistas e o desfecho da sua estória pessoal.
Fato é que, depois de ver todo o filme, com a condenação e auto execramento da personagem pelo orgulho[1], que talvez alguns digam que tenha sido pela exígua estima, fiz uma analogia entre o pensamento de justiça empregado naquela situação com algumas situações corriqueiras do nosso dia a dia.
Comparei os seguintes fatos: ela era funcionária do governo, sem autonomia para questionar ou propor novas formas de empenho nas funções que lhe eram dirigidas e também lhe consta a peculiar característica da grande parte da população que vive no seu mundo particular: a falta de interesse em saber o porquê das coisas, a falta de interesse pelas conseqüências das atividades desempenhadas, o total desinteresse pelas causas de problemas que possam ser geradas pela saciedade da sua pessoal necessidade. Ela desempenhava simplesmente as tarefas definidas pela chefia. E era competente no que fazia. Realizava exatamente o que era pedido. Era paga para não pensar. Contudo, seu julgamento questionou exatamente isso, como pode alguém realizar tais tarefas? Como pode alguém deixar prisioneiros morrerem queimados ao invés de deixá-los fugir? Mas, não era essa a atividade para a qual ela foi contratada? E, foi selecionada exatamente porque desempenharia fielmente as atividades atribuídas a ela?
O questionamento aqui não é sobre direitos humanos. O posicionamento é sobre a responsabilidade dos atos. Você deve se achar muito justo, não é? Normalmente, a maioria das pessoas leva uma vida normal, regrada, dentro da lei. Mas ai vem a grande questão: será suficiente? Qual a diferença entre você e a Hanna? Você pode até tentar se defender, dizer que você não cometeu crimes de guerra, que não é condenado por assassinar 300 pessoas, dizer que você vive seu dia a dia sem agredir ou prejudicar ninguém. Que você faz sua parte, seu trabalho que é pago para fazer. E é ai que eu te pergunto: será que o que você faz agora, porque é pago para fazer e você o faz sem questionar, não pode te definir como co-autor de situações que levem você futuramente a um tribunal? Claro que não, deverá ser a sua resposta, afinal, você só faz o seu trabalho. Mas, como trabalhamos para um governo que em grande parte é corrupto, que tem uma despesa muito superior a sua receita, que não consegue oferecer para a sua população seus diretos básicos de vida e em contrapartida, oferece salários e benefícios valiosos para congressistas que não conseguem desempenhar sua função com apropriada eficiência talvez não possamos ter tanta certeza. Sua população é pobre. Seu povo passa fome e sede. Dormem em taperas de pau a pique. São ignorantes, pois ainda aqueles que alcançam a educação, não percebem que ela é camuflada por toda a sua estrutura e sistema. Ela não educa, ela adestra. E você, como funcionário é conivente a isso.
Ou trabalhamos em empresas que inflacionam seus preços buscando ganhos de 100% ou mais. Empresas que não se preocupam com a perpetuação ou com a saúde financeira do mercado, porque não sabem sequer o que isso significa. A preocupação é retirar o que investiram na empresa em tempo recorde e em ganhar o máximo que puder, afinal não tem certeza se estarão abertas amanhã. Mas, se essa esperança existir, que seja pra ganhar mais. Mesmo que seja à custa de uma população pobre, que tenha que escolher entre comer ou ter dinheiro para ir para o trabalho. Entre trabalhar ou ir ao médico.
Pergunte-me porque esse devaneio. Responderei-te que para mim não existe diferença entre ser funcionária nos campos de Auschwitz ou ser funcionário em qualquer uma dessas outras opções. A diferença entre elas é que os campos de concentração o resultado foi rápido, nos outros o resultado é lento e talvez, por isso mesmo, mais cruel. Pode-se contar entre 700.000 e 1.400.000 de pessoas mortas durante o terceiro Reich entre 1933 e 1945. Talvez este seja o grande impacto. Mas, pense: somos 193.000.000 de brasileiros, os impactos à longo prazo podem e devem ser muito mais devastadores. Quantas pessoas já morreram de fome, pela violência, pelo descaso na saúde?
Questione-se se suas atitudes e atividades do dia a dia podem, futuramente, te levar ao tribunal por “simplesmente realizar sua tarefa”. Será que ninguém poderá perguntar pra você como você teve coragem de escolher fazer “isso” mesmo tendo tanta gente morrendo de fome, ou “aquilo” com tanta gente morrendo sem atendimentos nos hospitais, ou ainda “esta atitude” sabendo que milhares de famílias poderiam estar morando em casas e não embaixo de lonas. Apesar de você estar simplesmente fazendo o seu trabalho, sem condições de discutir o que e como fazer. Ou mesmo, sem as informações necessárias para entender o “plano” superior que envolvia a sua tarefa, afinal, nem todo chefe é santo.
Não estou defendendo a atitude da Hanna, nem mesmo reduzindo a sua culpa. Também não estou querendo dizer que você é um criminoso ou que todos os crimes são exatamente iguais. Estou simplesmente me questionando sobre nosso sistema de julgamento pessoal, que para mim, depois desse filme, passa a ser muito mais sério e profundo. Passo a questionar minha cooperação nessas calamidades sociais através da minha passividade ou da minha ignorância sobre os movimentos que causam essas desigualdades. Passo a pensar sobre o que faço ou deixo de fazer, que colabore com toda essa situação calamitosa: Fome, miséria, frio, abandono, pobreza, ignorância e adestramento e, a partir disso, divido este pensamento com você.
A justiça que esperamos existir um dia, me desculpe pluralizar, mas imagino que seja essa a reação instintiva do homem, permeia todos os atos, os grandes e impactantes, como os de Auschwitz, os grandes e mascarados como os do Brasil, os pequenos e discretos como o desvio de uma pequena quantia da verba de um projeto ou a pequena e discreta inflação nos produtos que você comercializa ou ajuda a comercializar. Qual é mesma a diferença? Eu não consigo encontrá-la.
Estamos na era da informação e isso traz uma grande mudança. Não cabe mais o não saber. Não é lícito você simplesmente fazer o que te mandam fazer. É necessário mais, necessita-se do pensamento processado. Precisa-se de pensadores. Pensar para agir e agir para muitos, este é o novo lema.
E, indo de encontro a esta nova necessidade que pode ser enquadrada pela moralidade, pela humanização das atividades, pela solidariedade, pela fraternidade e caridade todas acompanhadas de informação e cultura, estão os novos perfis sinalizados cada dia mais pelo mercado de trabalho. Empresas sérias e consistentes, públicas ou privadas, procuram pessoas conscientes e capazes de articularem e defenderem novas posturas. Procuram colaboradores eficientes, não só competentes.
Então, finalmente eu te pergunto: o que é justo pra você? Será que realmente você não corrobora indiretamente com nenhuma das injustiças que aplacam tantas pessoas nesse nosso imenso país? Será que você pode afirmar, como toda a certeza que, nunca ou jamais seria chamada para um julgamento onde nele seria atribuída a você uma parcela de culpa pelos resultados, mesmo tendo você somente cumprido ordens? Pense nisso. Não seja culpado por tanto sofrimento.
Como fazer isso? Leia, pense, estude, questione, vá atrás dos princípios dos movimentos que você faz parte, compreenda o mercado da empresa que você trabalha, preocupe-se com o próximo, ajude, não aceite a aparente regularidade da sua vida simples, aceite a complexidade da vida em sociedade. Preocupe-se com os efeitos das suas atitudes, no curto, no médio e no longo prazo, tanto para você e para os seus entes queridos quanto para aqueles que já não são tão favorecidos quanto você. Tente melhorar a vida de quem sofre, assim, sua vida automaticamente será melhorada.
Não pense que tudo isso é bobagem, pense que isto é uma precaução a tudo o que possa vir a acontecer, afinal, os nazistas imaginavam que seriam os donos do mundo e gerariam uma nova raça humana e não condenados por atrocidades e crimes contra a humanidade, que levaram muitas pessoas envolvidas neste movimento ao banco dos réus.
Futuramente isso poderá ser aplicado a situações que para nós, hoje em dia, são somente crises ou problemas, mas poderão ser também considerados crimes contra a humanidade ou atrocidades. Não corra o risco de você ter que sentar no banco dos réus pelo mesmo motivo que a Hanna sentou: passividade, ignorância e adestramento.




[1] Digo auto execramento e orgulho porque ela foi condenada à perpétua porque não quis se declarar analfabeta diante do tribunal, fato que a teria favorecido na sentença, já que as demais culpadas foram condenadas a 4 anos e pouco e ela, por ter ocultado isso, condenada a prisão perpétua.

20 comentários:

  1. é por isso que eu não trabalho rs :)
    adorei seu blog, vou olhar sempre! beijocas, malala

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  2. é a dura realidade para nós que estamos, tão perto do poder de nosso País. Muitos com pouco e outros com Muito que era para ser de poucos.
    Adorei estarei sempre de olho no seu Blog.bjus

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  3. Em primeiro lugar, adorei a proposta do seu blog. Eu vi esse filme semana passada e acredito que você levantou uma questão muito séria e bastante pertinte frente a nossa realidade hoje.
    Faço das suas minhas palavras! Parece exagero comparar a Alemanha nazista com o nosso país, mas você soube bem descrever o quanto isso é realidade!
    Beijo!

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  4. Adorei o blog Lu! Parabéns!
    Este filme mexe muito conosco, quando assisti também mergulhei num infinito mar de reflexões.
    Adorei o cantinho da arte...posso plagiar? rss

    Bjks

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  5. Querida Lu,
    Adorei o blog e todas as postagens,principalmente por levarmos a pensarmos mais e termos um pouco mais de consciência para fazermos o que é certo independetemente se estamos sendo pagos para fazer o errado e pararmos um pouco de tentar mundar o proximo,moldando-o do nosso jeito.
    bjos!!

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  6. oi gata.parabéns!!!
    Este é uma otimo assunto para se por em pauta, principalmento pelo fato de hoje não existir o nós mas o eu, onde em muitos casos se existi o nós o mundo seria mehor e mais a frente resultados melhores.Todo ato tem uma consequência, que talvez demore a ter um péssimo resultado ou talvez não.

    bjos gata...nilciene alves

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  7. Minha cara "Dilícia",

    adorei seu texto, me fez refletir por alguns minutos (o que quase nunca faço) sobre a real situação do país, e mais um pouco pela situação que me encontro na empresa que trabalho. Não tenho o costume de pensar antes de agir, prefiro resolver os problemas depois, caso venha caso apareça, sempre achei que quando penso demais sobre determinado assunto, deixo de fazer, aí me arrependo por não ter feito. Procuro ser explosivo em minha decisões e pensar depois, errado ou certo, sempre assumo as consequencias!

    Rodrigo Augusto

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  8. BOA TARDE!!!seu blog ta mara!!!
    Todos nós vivemos assim hoje em dia ,como se estivessemos presos,(em um trabalho ,em casa ou na escola ) somos condicionados a pensar e agir de modo que não atrapalhe o interesse dos outros .Esta questão que voce levantou é otima desperta opnioes e divergencias de idéias

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  9. BOA TARDE!Seu blog está mara.....
    Gostei muito de seus textos ,realmente todos nós hoje em dia vivemos presos ,sem poder pensar e agir como gostariamos,(no trabalho ,escola,família)nos faz refletir opnioes e questionar decisoes.

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  10. Tia (Lu) é complicadissimo falar e pensar no nós. Com todas as situações nas quais nos deparamos dia dia, parece que a sociedade criou um método de defesa, defesa da própria sociedade, e que a qualquer reação de desconfiança e medo intrissicamente nos remetemos a atitudes extremas defesa, gerando ai um circulo vicioso de todos tentando se defender de um vilão muitas vezes da abrastração de cada um.

    Estranho? Estranho nada só um jeitinho de viver. RSRS

    Muito bacana seu Bloguinho.

    Att.

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  11. Tia Lu,
    a reflexão q tenho aponta minhas decisões pensativas e às vezes demoradas, porque procuro buscar o certo a fazer no meu dia-a-dia. Embora temos consciência do que fazemos, sempre estamos preocupados com o dia de amanhã, pois nunca estamos certos do que pode vir a acontecer, pois não sabemos fazer outra coisa além da dedicação ao nosso trabalho ou colégio. Por mais que nossas decisões afetem nossos companheiros, sempre procuramos uma forma de não prejudicá-los.

    Nilma Nunes.

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  12. Mommy, vc é uma pessoa que me faz pensar constantemente sobre as minhas atitudes e as maneiras como 'levo' a vida, e vc sabe que vc é o meu maior incentivo e exemplo, as vezes pode parecer que não, mas tenha a certeza de que tento te seguir ao extremo...! A sua idéia de criar esse blog, é muito mais do que legal, é uma forma super atualizada e emocionante de fazer oq eu acho que é um de seus dons; a capacidade de fazer outras pessoas pensarem...
    Fico muito orgulhosa de ser sua filha, e muito feliz de saber que existem iluminadas e especiais como vc pra salvar esse mundo!!

    Te amo e parabéns pelo seu blog, ficouu MMUUUYY BUENO, Conej... Viej...!!

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  13. Oi Lú,
    Muito interessante o texto. As pessoas hoje em dia estão tão focadas em ganhar, que as vezes não se preocupam com as pessoas envolvidas em suas vidas. Ou seja, independente de onde é a fonte, acabam se esquecendo que até mesmo ela faz parte do contexto.
    Isso me faz refletir. Onde iremos chegar? E se exatamente estou fazendo a minha parte para contribuir com aquilo que é correto ou até mesmo ajudando alguém a ser feliz!?

    Beijos,
    Anderson Felipe

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  14. Oi Lú, gostei muito do texto ,porque ele faz refletir sobre a realidade do dia-a-dia que vivemos,hoje só se pensa no eu e não no nós, quando na verdade seria mais facil se pensassemos nas pessoas que vivem ao nosso redor n realidade que a grande maioria dessas pessoas vivem e essas pessoas levam a vida.
    Bjos..
    Honoria silva

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  15. Bom dia tia Lu,
    Confesso que ja tinha passado por aqui e lido algumas de suas postagens, mas essa é simplismente maraaaa!!Parei para refletir sobre o mundo em que vivemos e cheguei a conclusão que posso sim, um dia estar no banco dos réus e vir a ser condenada pela passividade, aceitação, olhos fechados, por acreditar simplismente que estou apenas fazendo o meu serviço,confesso que isso me deixou alerta com o "mundinho" que vivo...
    Bjim
    Camila Corrêa

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  16. reconheço, atravé desse texto, que nós seres-humanos somos muito limitados e também acomodados. Estamos acostumados a viver para sermos beneficiados e muitas vezes somos corrompidos pelas nossas atitudes ou, até mesmo, pela falta dela. É possível mesmo que sejamos levados ao tribunal e condenados, não por ações, mas talvez pela falta delas.

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  17. Pensar antes de agir, até que tento faze-lo sempre mas as vezes agimos sem pensar quem de nós nunca agiu sem pensar? pois é dificil e as vezes este agir nos deixa em situações complicadas.' já perdi a cabeça em situações e agi de forma explosiva e depois vem o arrependimento, mas sempre procuro assumir meu erro, até por que depois a cabeça volta par o lugar certo.rsrr
    bjs

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  18. Tia dessa vez você cansou minha vista!!!
    Mas vou dizer que valeu a pena. Pensar, pensar e pensar, como é complicado diante da correria do dia-a-dia. Pensar antes de agir é fundamental.

    http://danielpublicidade.wordpress.com

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  19. Nossa!!!`
    Por mais que saibamos das conssequências, que talvez até esperamos por elas, nem sempre pensamos antes de agir. É um impulso doentio que nos leva a obdecer regras que vão além dos nossos princípios. Assim como você diz: somos adestrados e cúmplices de "atrocidade" que vem acontecendo com o mundo hoje. Temos que ter cautela em todos os assuntos. Em tudo na vida. Muitas vezes esquecemos que muitos dos nossos atos (mesmo sem intenção), pode estar prejudicando alguém. Como vi em quase todos os comentários: "Pensar, pensar e pensar muito antes de agir.
    Bj

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  20. A falta de conhecimento não justifica determinados erros, esse pode ser um modo de pensar. Fazer as coisas sem estar ciente do retorno que elas irão trazer. Talvez um pouco de senso critico naquilo que fazemos ou seguimos pode uma saída para não cairmos nesse erro. Pensar na razão do por que fazemos determinadas coisas e só depois de chegar a um consenso decidir se devemos continuar com elas ou não.
    Leonardo Hideki.

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