quarta-feira, 29 de abril de 2009

"PANTA REI"



Este é um trabalho impressionante dos monges budistas que fazem as mandalas de sal colorido. Feitas com o maior cuidado e com a maior dedicação, elas são desmanchadas logo depois de prontas para demonstrar a transitoriedade das coisas na vida, mesmo que elas exijam o maior esforço. Assim é que nós devemos encarar o dia-a-dia. E sempre prontos para começar tudo de novo, se preciso for. Perca o referencial de vez em quando. Saia de sua zona de conforto. Dê oportunidade ao imprevisível. Nada é mais certo do que a incerteza. As coisas têm o valor que nós damos a elas. " Panta Rei" é uma expressão do pensador Heráclito, que significa TUDO MUDA ( tudo flui, nada persiste ) - e ele usava como metáfora filosófica pisar num Rio , que um milésimo de segundo depois de pisado, o rio já não era mais feito da mesma água. Permita-se fazer coisas diferentes, permita-se experimentar. Mude algumas coisas, mas sempre pense!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

PASSIVO OU PACÍFICO?


Uma querida amiga, um dia me disse, que existe uma diferença muito grande entre ser pacífico e ser passivo. Disse-me que ser pacífico é tratar das situações sempre com brandura e tranquilidade sem perder o foco. Que não é necessário perder a calma para que seja resolvido um problema, por exemplo. Disse-me que podemos se firmes sem ser rudes ou impacientes e ainda assim, conseguir gerenciar, controlar e manter o foco em alerta.
Ser passivo, por outro lado, é deixar que as coisas aconteçam sem a sua anuência ou concordância. Você não questiona e nem faz participação das suas idéias e necessidades nos fatos. Simplesmente as aceita da forma que acontecem.
Esta diferença parece sutil, mas é de extrema importância para você, enfim, conseguir perceber os seus limites. Aqueles comentados no texto anterior. Pois se você não conseguir perceber os seus limites claramente, não conseguirá fazer esta separação tranquilamente e o que poderia ser uma gentileza da sua parte, poderá se tornar um estopim de uma crise de nervos, o que não é a intenção.
A pacificidade é o treinamento dos seus limites. É o meio de colocá-los em prática, de exercê-los e talvez, de ampliá-los. Será através do exercício paciente que se poderá perceber quais são realmente as suas necessidades e suas prioridades. Contudo, é também através dele que você poderá sentir que as mesmas prioridades e necessidades já não fazem tanto sentido como outrora. E esta será a “brecha” para você tomar as “rédias” do seu temperamento e, quando você conseguir fazer isso, você abrirá as portas de um novo horizonte...
PENSE NISSO.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

ENTRE DUAS PESSOAS


Você está acompanhando meu raciocínio desde o início? Espero que sim, ficará mais fácil de me entender. Pegando o gancho do equilíbrio comentado ontem, que foi levado para o relacionamento social, entre o eu – indivíduo e o nós – sociedade, pensei sobre a relação entre o eu – indivíduo com outro indivíduo.
Tem um tempo que eu tento me libertar das amarras da “posse”, mas é muito difícil! Queremos que as pessoas que amamos ajam como agimos, pense como pensamos e faça o que nós fazemos. Como podemos querer isso? Afinal, somos diferentes, temos estórias diferentes, crenças e idéias diferentes, isso sem questionar as diferenças morais e as de caráter religioso.
Por que desejamos isso? Quais os elementos que não conseguimos digerir para que essa realidade seja claramente identificada? Digo isso porque sei que não somos somente nós, simples mortais, que passamos por essa dificuldade, quase todos passam, pensadores, cientistas, religiosos, e todos os demais.
Talvez seja uma questão de auto-responsabilização? Não sei, penso que só em pouquíssimos casos. Talvez uma carência traumática? Em alguns casos sim... Mas, a grande maioria tem uma estória de vida comum, sem grandes tragédias ou fatos tão singulares. E nesses casos, o que justifica esse sentimento? Porque não podemos conviver com a diversidade de sentimentos, de jeitos, de humores? Porque somos tão cartesianos nesse sentido? Porque é mais fácil compreender o simples do que o complexo, talvez.
“Parar para pensar nas ações dos outros, quanta impropriedade!” me diriam alguns. Mas, se não compreendermos que todas essas diferenças geram comportamentos diferentes e que eles, vão desembocar num limite individual, que definirá que cada um só dá o que pode dar (a quantidade de amor, de compreensão, de companheirismo, tolerância, de humildade, se seriedade, de solidariedade e tudo o mais) não compreenderemos nunca porque alguém faz algo diferente do que fazemos. Essa é uma das verdades mais libertadoras para o ser humano que eu conheço, na minha pequenez, claro!
Pense comigo: se eu compreendo que fulano de tal age assim, tão diferente de mim, por “isso e por aquilo”, ou seja, porque ele enxerga o mundo assim, não sou eu que vou mudar, porque essa mudança vem de uma intenção íntima, então, ou lido com isso ou procuro novos “pares” ou morro de desgosto tentando fazê-lo mudar! Não é assim?!
Simplifiquemos nossas vidas! Pensem nas diversidades e tudo o que isso significa. Cada um é um produto de uma matriz com muitíssimas variáveis. Por isso temos irmãos dentro de casa que são tão diferentes de nós, mesmo tendo a mesma família e a mesma criação.
Aceite o seu limite e o limite dos outros!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

PENSE MUITO ANTES DE AGIR


O LEITOR


São 23.49h do dia 13 de abril de 2009 e eu acabei de ver um filme, o Leitor. Fiquei pensando qual a real justiça que existe na nossa cabeça, no nosso sistema legal e nas nossas vidas.
O filme conta a estória de uma das carcereiras dos campos de concentração nazista, um pouco da sua estória pessoal, o julgamento do seu envolvimento nos casos nazistas e o desfecho da sua estória pessoal.
Fato é que, depois de ver todo o filme, com a condenação e auto execramento da personagem pelo orgulho[1], que talvez alguns digam que tenha sido pela exígua estima, fiz uma analogia entre o pensamento de justiça empregado naquela situação com algumas situações corriqueiras do nosso dia a dia.
Comparei os seguintes fatos: ela era funcionária do governo, sem autonomia para questionar ou propor novas formas de empenho nas funções que lhe eram dirigidas e também lhe consta a peculiar característica da grande parte da população que vive no seu mundo particular: a falta de interesse em saber o porquê das coisas, a falta de interesse pelas conseqüências das atividades desempenhadas, o total desinteresse pelas causas de problemas que possam ser geradas pela saciedade da sua pessoal necessidade. Ela desempenhava simplesmente as tarefas definidas pela chefia. E era competente no que fazia. Realizava exatamente o que era pedido. Era paga para não pensar. Contudo, seu julgamento questionou exatamente isso, como pode alguém realizar tais tarefas? Como pode alguém deixar prisioneiros morrerem queimados ao invés de deixá-los fugir? Mas, não era essa a atividade para a qual ela foi contratada? E, foi selecionada exatamente porque desempenharia fielmente as atividades atribuídas a ela?
O questionamento aqui não é sobre direitos humanos. O posicionamento é sobre a responsabilidade dos atos. Você deve se achar muito justo, não é? Normalmente, a maioria das pessoas leva uma vida normal, regrada, dentro da lei. Mas ai vem a grande questão: será suficiente? Qual a diferença entre você e a Hanna? Você pode até tentar se defender, dizer que você não cometeu crimes de guerra, que não é condenado por assassinar 300 pessoas, dizer que você vive seu dia a dia sem agredir ou prejudicar ninguém. Que você faz sua parte, seu trabalho que é pago para fazer. E é ai que eu te pergunto: será que o que você faz agora, porque é pago para fazer e você o faz sem questionar, não pode te definir como co-autor de situações que levem você futuramente a um tribunal? Claro que não, deverá ser a sua resposta, afinal, você só faz o seu trabalho. Mas, como trabalhamos para um governo que em grande parte é corrupto, que tem uma despesa muito superior a sua receita, que não consegue oferecer para a sua população seus diretos básicos de vida e em contrapartida, oferece salários e benefícios valiosos para congressistas que não conseguem desempenhar sua função com apropriada eficiência talvez não possamos ter tanta certeza. Sua população é pobre. Seu povo passa fome e sede. Dormem em taperas de pau a pique. São ignorantes, pois ainda aqueles que alcançam a educação, não percebem que ela é camuflada por toda a sua estrutura e sistema. Ela não educa, ela adestra. E você, como funcionário é conivente a isso.
Ou trabalhamos em empresas que inflacionam seus preços buscando ganhos de 100% ou mais. Empresas que não se preocupam com a perpetuação ou com a saúde financeira do mercado, porque não sabem sequer o que isso significa. A preocupação é retirar o que investiram na empresa em tempo recorde e em ganhar o máximo que puder, afinal não tem certeza se estarão abertas amanhã. Mas, se essa esperança existir, que seja pra ganhar mais. Mesmo que seja à custa de uma população pobre, que tenha que escolher entre comer ou ter dinheiro para ir para o trabalho. Entre trabalhar ou ir ao médico.
Pergunte-me porque esse devaneio. Responderei-te que para mim não existe diferença entre ser funcionária nos campos de Auschwitz ou ser funcionário em qualquer uma dessas outras opções. A diferença entre elas é que os campos de concentração o resultado foi rápido, nos outros o resultado é lento e talvez, por isso mesmo, mais cruel. Pode-se contar entre 700.000 e 1.400.000 de pessoas mortas durante o terceiro Reich entre 1933 e 1945. Talvez este seja o grande impacto. Mas, pense: somos 193.000.000 de brasileiros, os impactos à longo prazo podem e devem ser muito mais devastadores. Quantas pessoas já morreram de fome, pela violência, pelo descaso na saúde?
Questione-se se suas atitudes e atividades do dia a dia podem, futuramente, te levar ao tribunal por “simplesmente realizar sua tarefa”. Será que ninguém poderá perguntar pra você como você teve coragem de escolher fazer “isso” mesmo tendo tanta gente morrendo de fome, ou “aquilo” com tanta gente morrendo sem atendimentos nos hospitais, ou ainda “esta atitude” sabendo que milhares de famílias poderiam estar morando em casas e não embaixo de lonas. Apesar de você estar simplesmente fazendo o seu trabalho, sem condições de discutir o que e como fazer. Ou mesmo, sem as informações necessárias para entender o “plano” superior que envolvia a sua tarefa, afinal, nem todo chefe é santo.
Não estou defendendo a atitude da Hanna, nem mesmo reduzindo a sua culpa. Também não estou querendo dizer que você é um criminoso ou que todos os crimes são exatamente iguais. Estou simplesmente me questionando sobre nosso sistema de julgamento pessoal, que para mim, depois desse filme, passa a ser muito mais sério e profundo. Passo a questionar minha cooperação nessas calamidades sociais através da minha passividade ou da minha ignorância sobre os movimentos que causam essas desigualdades. Passo a pensar sobre o que faço ou deixo de fazer, que colabore com toda essa situação calamitosa: Fome, miséria, frio, abandono, pobreza, ignorância e adestramento e, a partir disso, divido este pensamento com você.
A justiça que esperamos existir um dia, me desculpe pluralizar, mas imagino que seja essa a reação instintiva do homem, permeia todos os atos, os grandes e impactantes, como os de Auschwitz, os grandes e mascarados como os do Brasil, os pequenos e discretos como o desvio de uma pequena quantia da verba de um projeto ou a pequena e discreta inflação nos produtos que você comercializa ou ajuda a comercializar. Qual é mesma a diferença? Eu não consigo encontrá-la.
Estamos na era da informação e isso traz uma grande mudança. Não cabe mais o não saber. Não é lícito você simplesmente fazer o que te mandam fazer. É necessário mais, necessita-se do pensamento processado. Precisa-se de pensadores. Pensar para agir e agir para muitos, este é o novo lema.
E, indo de encontro a esta nova necessidade que pode ser enquadrada pela moralidade, pela humanização das atividades, pela solidariedade, pela fraternidade e caridade todas acompanhadas de informação e cultura, estão os novos perfis sinalizados cada dia mais pelo mercado de trabalho. Empresas sérias e consistentes, públicas ou privadas, procuram pessoas conscientes e capazes de articularem e defenderem novas posturas. Procuram colaboradores eficientes, não só competentes.
Então, finalmente eu te pergunto: o que é justo pra você? Será que realmente você não corrobora indiretamente com nenhuma das injustiças que aplacam tantas pessoas nesse nosso imenso país? Será que você pode afirmar, como toda a certeza que, nunca ou jamais seria chamada para um julgamento onde nele seria atribuída a você uma parcela de culpa pelos resultados, mesmo tendo você somente cumprido ordens? Pense nisso. Não seja culpado por tanto sofrimento.
Como fazer isso? Leia, pense, estude, questione, vá atrás dos princípios dos movimentos que você faz parte, compreenda o mercado da empresa que você trabalha, preocupe-se com o próximo, ajude, não aceite a aparente regularidade da sua vida simples, aceite a complexidade da vida em sociedade. Preocupe-se com os efeitos das suas atitudes, no curto, no médio e no longo prazo, tanto para você e para os seus entes queridos quanto para aqueles que já não são tão favorecidos quanto você. Tente melhorar a vida de quem sofre, assim, sua vida automaticamente será melhorada.
Não pense que tudo isso é bobagem, pense que isto é uma precaução a tudo o que possa vir a acontecer, afinal, os nazistas imaginavam que seriam os donos do mundo e gerariam uma nova raça humana e não condenados por atrocidades e crimes contra a humanidade, que levaram muitas pessoas envolvidas neste movimento ao banco dos réus.
Futuramente isso poderá ser aplicado a situações que para nós, hoje em dia, são somente crises ou problemas, mas poderão ser também considerados crimes contra a humanidade ou atrocidades. Não corra o risco de você ter que sentar no banco dos réus pelo mesmo motivo que a Hanna sentou: passividade, ignorância e adestramento.




[1] Digo auto execramento e orgulho porque ela foi condenada à perpétua porque não quis se declarar analfabeta diante do tribunal, fato que a teria favorecido na sentença, já que as demais culpadas foram condenadas a 4 anos e pouco e ela, por ter ocultado isso, condenada a prisão perpétua.